domingo, 28 de novembro de 2010

Paulista

(Escrito em 06/03/2007)

É noite
caminho sobre o ar fresco da Avenida Paulista,
vinte e três graus, respiro no clima ameno de São Paulo,
namorados de mãos enlaçadas, velhinhos com seus cães, passantes andam apressados,
jovens clubbers e emos em bandos, entribados,
moradores de ruas com seus cachorros vira-latas,
e a lua me acompanha.

Me perco nos meus pensamentos,
tantas coisas a fazer,
encontrar uma casa pra morar,
trabalho, trabalho, trabalho,
as luzes dos prédios me sorriem,
os carros passam por mim,
as pessoas também.

Essa cidade me absorve,
mas estou vivendo em outra dimensão,
onde a cidade de São Paulo é minha,
somos uma só nessa noite estrelada
em que caminho sem pressa,
completamente absorta em meus pensamentos
vivendo e sendo a Paulicéia desvairada.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Cidade dos Sapos (Ou Crônica para o Márcio Cabral)

(Escrita em 06/06/2007)

É também conhecida como a cidade da garoa, apesar de ser há algum tempo a Cidade dos Temporais, onde numa tarde pode chover toda a chuva de um mês inteiro. Mas hoje, depois de demorar o dobro do tempo para chegar ao local de trabalho, por conta do caos do trânsito, ouvi de um amigo gaúcho que esta é a Cidade dos Sapos. Ele sorri quando conto que o Parque do Ibirapuera já foi um pântano.

Choveu durante todo o dia, na avenida aqui em frente o trânsito de fim de dia, que sempre é complicado, vai lento. Penso que apesar de não ter galochas, é mais fácil ir embora a pé. Rio de mim mesma, há muito tempo não se usam mais galochas.

Esse mesmo amigo me chama dizendo que deve estar aparecendo o sol, porque o céu está de um rosa-alaranjado claro. Saio correndo do escritório. Olho o céu a procura de algum sinal do sol. Rio novamente, a cor do céu nada mais é do que o reflexo das luzes da cidade anoitecendo nas nuvens claras de chuva.

Continua a chover na Cidade dos Sapos, e eu me conformo em ser, assim como meu amigo gaúcho, mais um sapo.

Plano Nacional de Educação

O Brasil tem avançado significativamente em várias áreas nos últimos anos, fruto de uma constante pressão da sociedade por mais mudanças que conduzisse nosso país para um projeto nacional de desenvolvimento que atendesse os anseios do povo brasileiro.

E não é novidade a importância da Educação na construção de um país desenvolvido e soberano, com um Estado democrático que assegure a todos e todas cidadania plena. No que tange à legislação educacional, temos uma das mais desenvolvidas do mundo, assegurando constitucionalmente a Educação como Direito, responsabilizando o Estado, a sociedade e a família pela Educação de seus cidadãos. Mas, na prática, apesar de muitos avanços, a Educação ainda é um elemento distintivo de classe, uma vez que o grande abismo social tem como uma de suas representações o acesso aos bancos escolares e acadêmicos.

Nesse sentido, o Plano Nacional de Educação (PNE) é um importante instrumento do Estado para comprometer o governo federal, não importando qual o governante de plantão, com um projeto de médio prazo para a Educação. O último PNE foi exaustivamente debatido pelas entidades ligadas à educação e os movimentos sociais, entretanto as principais contribuições da sociedade se perderam seja no projeto de lei aprovado pelo congresso seja pelos vetos de FHC, tornando-o uma mera carta de intenções.

Estamos num momento privilegiado, em que a sociedade e o poder público conseguem reunir melhores condições na construção de uma agenda comum, prova disso é o documento aprovado consensualmente pelo Conselho Nacional de Educação com subsídios para a elaboração do PNE. À exceção de setores ligados à exploração da educação como um serviço comum, a sociedade civil cumpriu o seu papel durante o debate da Conferência Nacional de Educação, que teve grande suporte político e estrutural do poder executivo. A Câmara dos Deputados, através da Comissão de Educação e Cultura, realizou debates regionais sobre o PNE. E tudo isso tem que refletir em um verdadeiro Plano Nacional de Educação com objetivos claros e metas concretas a serem atingidas nos próximos dez anos.

O próximo PNE deve reforçar o caráter da educação como Direito de todos e todas, condição básica de cidadania. Devemos superar a falsa contradição entre quantidade e qualidade, por isso o plano deve conceber a universalização do acesso, com garantia de conclusão com êxito calcada na qualidade. Não podemos conceber processos educacionais que não tenham como objetivo principal o êxito educacional, e políticas de permanência são tão fundamentais quanto às de acesso. Queremos, em 10 anos, todas as crianças e jovens dos quatro aos dezoito anos na escola, em período integral e em turmas de acordo com a sua idade. Para isso, é necessário garantir o transporte escolar e o passe livre, merenda escolar, uniforme, material didático, valorização da carreira docente etc, e tudo isso passa pelo financiamento da educação.

Outra falsa dicotomia que existe na educação é o binômio “Ensino Básico X Ensino Superior”. Ora, a universidade é peça central em um projeto de desenvolvimento econômico e social, como centro de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural e precisa ter a sua autonomia didática, financeira e administrativa garantida para cumprir seu papel. O Governo Lula deu um passo importante com a regulamentação do Art. 207 da Constituição assegurando a autonomia de fato às universidades federais, contudo, as universidades privadas e confessionais ficaram fora do pacote, de forma que ainda são reféns das Mantenedoras.

As Instituições de Ensino Superior da rede federal foram submetidas a um verdadeiro processo de sucateamento na década de 90, esse processo vem sendo revertido ao longo dos últimos anos através de ações de governo. Mas, não podemos permitir que o futuro da universidade brasileira esteja à mercê de políticas governamentais, por isso, o PNE deve prever que, em 10 anos, a oferta de vagas públicas no ensino superior suba para 60% do total, sem prejuízo da qualidade; e que 40% dos jovens de 18 a 25 anos estejam cursando o ensino superior.

Nosso país tem uma enorme dívida social, e na universidade isso fica evidente na composição dos grupos étnico-raciais entre o quadro discente e sua distribuição nas carreiras. Avançamos significativamente na questão de acesso, mas ainda há uma grande parcela da juventude fora da universidade. Temos uma grande contradição na trajetória acadêmica dos estudantes, isto é, a maioria dos egressos do ensino básico vem da escola pública, mas a maior oferta de vagas dos cursos superiores está centralizada nas instituições privadas. E é para essas instituições que vão a maioria dos egressos da escola pública, enquanto nas Instituições Públicas de Ensino Superior há um predomínio de egressos das escolas da rede privada, a USP é a prova cabal disso com um processo de auto-exclusão dos estudantes da escola pública na FUVEST, apesar dos esforços do Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP), que prova que a medida mais acertada de inclusão neste momento é a reserva de vagas.

Por isso, ainda fazem-se necessárias políticas de acesso e permanência que contemplem os segmentos historicamente excluídos do ensino superior. Contudo, sem uma política de permanência estudantil que contemple as necessidades de saúde, bolsas-auxílio, moradia, transporte, alimentação e creches, a universidade reproduzirá um traço ainda mais perverso que é incluir para excluir.

A universidade deve ser um espaço para o livre exercício da democracia. Por esse motivo a gestão democrática cumpre papel essencial na consolidação da universidade brasileira como espaço de livre produção e circulação do saber e, é através de instrumentos como a paridade entre alunos, professores e funcionários nos conselhos e nas eleições diretas para os dirigentes universitários que se constróem importantes espaços de debates acerca do projeto político-pedagógico que servirá para a implementação dos Planos de Desenvolvimento Institucionais, por exemplo.

O ensino superior privado concentra a maior parte das vagas, bem como as mais elevadas taxas de evasão. Esse processo se explica pela desregulamentação do ensino pago, resultando em inúmeras instituições calcadas na lógica da educação como mercadoria, em práticas antidemocráticas e de ensino de baixa qualidade. A criação do Sistema Nacional Articulado de Educação será pouco ou nada eficaz sem a regulamentação do ensino pago, condição para que este se integre plenamente. Essa regulamentação deve assegurar o caráter nacional da universidade brasileira limitando a participação do capital estrangeiro nas universidades privadas. Garantir a autonomia, restringindo a participação das mantenedoras nos conselhos universitários, assegurando maioria do corpo acadêmico. Estabelecer mesas de negociação para os reajustes de mensalidade seis meses antes do final do ano letivo.
Nos próximos dias o governo federal apresentará o projeto de lei com a sua proposta de Plano Nacional de Educação que deve ser encaminhada ao Congresso.

Independentemente do teor desta proposta a sociedade deve estar atenta à sua tramitação no legislativo, uma vez que os parlamentares podem apresentar diversas emendas, podendo alterar seu sentido positiva ou negativamente. É importante que estejamos atentos para que nossos representantes defendam os nossos interesses, uma vez que o lobby do ensino privado tem força considerável e deve se opor à quaisquer medidas que venham a reforçar o caráter da educação como Direito e não como mera mercadoria.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

E por falar em educação ...

Por Renata Czekay


O conhecimento tem presença garantida em qualquer projeção que se faça do futuro. Hoje muitos educadores perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na tecnologia e na economia, perguntam-se sobre o futuro da educação, então aparecem as palavras, projeto político-pedagógico, esperança, ideal pedagógico.

Para se desenhar uma perspectiva para a educação é preciso distanciamento, é sempre um ponto de vista. Vale tudo para aprender. Isso vai além da reciclagem e da atualização de conhecimento e muito mais além da assimilação de conhecimento.

A sociedade do conhecimento possui múltiplas oportunidades de aprendizagem, parcerias entre público e privado ( família,empresas, ONGs ... ) avaliações permanentes, debate público, autonomia da escola. As conseqüências para a escola e para a sociedade em geral são enormes, ensinar e pensar, pesquisar, raciocinar, saber organizar o seu próprio trabalho, ser independente, articulado ser criativo e autônomo.

Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à escola: amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural, inovar, ser provocadora, construir e reconstruir.

A escola deve estar no caminho do exercício da cidadania. Como diz Ladislau Dowbor (1998) “ A educação torno-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não basta modernizá-la, como querem alguns. Será preciso transformá-la profundamente, deixará de ser lecionadora para ser gestora de conhecimento”

Sobre o ENEM, o ensino médio e o acesso à universidade

O Exame Nacional do Ensino Médio cumpre, hoje, dois papéis: avaliação do ensino médio e acesso ao ensino superior (principalmente pelo Sistema de Seleção Unificada - SiSU e Programa Universidade Para Todos - Prouni).

A avaliação do ensino médio brasileiro não pode ser restrita a uma prova feita no último ano ou restringiremos algo complexo, como a etapa final do ensino básico, à dados estatísticos superficiais. É necessário avaliar, também, a situação estrutural das nossas escolas (como a existência de bibliotecas e laboratórios, por exemplo), a formação e remuneração dos professores, a forma de gestão (participação da comunidade escolar nos conselhoes escolares) e a proposta pedagógica (se a escola oferece currículo diversificado e atividades extra classe).

Outro aspecto importante, diz respeito à periodicidade da prova. Ora, se é para avaliar o aprendizado dos/as estudantes ao longo do ensino médio, é natural (senão óbvio) que a avaliação deveria se compor de provas realizadas desde o início do curso (para se entender qual a "bagagem" que os/as estudantes trouxeram do ensino fundamental) e outras tantas no decorrer do curso (para se avaliar o que esta etapa do ensino agregou na tragetória do/a estudante).

Na forma como o ENEM está, ele nada mais é do que um instantâneo, ou retrato do/a estudante em um momento específico. Lembrando da intensidade deste momento chamado adolescência, se o/a estudante brigou com o/a namorado/a na véspera da prova isso pode fazer toda a diferença no resultado. Entendendo essa "particularidade" do público, que é maioria do ENEM, é natural que a prova possa ser feita mais de uma vez ao ano, podendo o/a estudante ficar com a maior nota. Obviamente, que isso encareceria o processo, logo a prova subsequente deveria ser cobrada à todos/as que a quisessem fazer.

Essa reformulação ofereceria aos gestores, em todos os níveis, um diagnóstico mais preciso do conhecimento apreendido pelos/as estudantes ao longo de suas tragetórias no ensino médio. De forma a corrigir, eventuais falhas de aprendizado antes da conclusão desta etapa de ensino.

Nessa perspectiva, pensando o ENEM como instrumento de processos seletivos para o Ensino Superior, quebramos o seu caráter de substitutivo "torto" do vestibular. Uma vez que o transformamos de prova para avaliação*.

Quando vejo as opiniões favoráveis à extinção do ENEM, penso em quais interesses estão por trás disto e me faço muitas perguntas que sintetizo em uma só: a quem interessa o fim do ENEM?

Enquanto o ENEM servia apenas como avaliação do ensino médio e as universidades federais faziam sua seleção apenas pelo vestibular, a prova era feita em menor escala e não havia toda essa visibilidade.

O que mudou de lá pra cá? Hoje o ENEM é a porta de entrada ao Prouni e utilizado por grande número de universidades federais. A criação do SiSU, permitiu que os/as estudantes pudessem se candidatar à vagas em várias universidades federais, coisa que antes era muito mais difícil porque implicava no pagamento de taxas de inscrição, deslocamento de suas cidades e calendário (alguns vestibulares aconteciam na mesma data).

Os principais beneficiados por estas mudanças foram os/as estudantes mais pobres, que não podiam pagar várias taxas de vestibulares e/ou se deslocar para fazer as provas. Já os maiores prejudicados foram os cursinhos, uma vez que o ENEM não é uma prova "decoreba" como os vestibulares. Para quem está no estado de São Paulo, essas mudanças são bem menos visíveis, uma vez que o ENEM tem pouco ou nenhum peso nos processos seletivos da USP, Unicamp e Unesp.

Por fim, o ENEM se mostra necessário assim como a sua reformulação.

* A diferença entre prova e avaliação não é meramente semântica, a primeira diz respeito à quantidade (enumera os conhecimentos apreendidos) e a segunda à qualidade (dá valor aos conhecimentos apreendidos).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Plantando batatas

Sou a famosa "raspa de tacho" ou temporona, tenho dois irmãos bem mais velhos. Por isso fui criada, praticamente, como filha única.

Eu era uma criança muito viva, isto é, uma "arteira" profissional! Como se não bastasse, minha curiosidade foi desperta aos três anos, era a insuportável fase do "por que?" (Se você tem filhos pequenos ou é irmã/o mais velha/o sabe bem do que estou falando).

Logo era difícil para a casa adulta conviver com uma garotinha que queria saber porque não dá pra reverter o cozimento do ovo já que a água pode virar vapor e gelo e voltar a ser água.

Tínhamos muitos livros em casa, aprendi a ler aos cinco anos e me divertia com as enciclopédias e atlas ilustrados. Mas tudo o que eu via me enchia ainda mais a cabeça de dúvidas e eu ficava o tempo todo atrás do meu irmão mais velho, um adolescente nerd.

Eu dei muita sorte, o Marcel já era budista e um praticante da arte da paciência numa casa de descendentes espanhóis com o pavio curtíssimo. E mesmo com toda a paciência de um monge, chegava uma hora em que o Mac me respondia a pergunta com uma outra pergunta que ele sabia onde estava a resposta, de forma que eu me via desafiada a desvendar o mistério que ele me apresentou.

Eu já tinha essa tenacidade e persistência que marca a minha personalidade e, invariavelmente eu voltava com a resposta à pergunta do Mac e reapresentava a minha pergunta. Nessa hora o Marcel se enfastiava e me mandava plantar batatas.

E, é isso que eu faço hoje, planto batatas, ou melhor, trabalho fazendo pesquisas diversas para o meu chefe :).